quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EXISTE UMA BOA NOVIDADE NO ESPORTE CATARINENSE

          Numa iniciativa inédita na história do esporte de Santa Catarina, o Deputado Estadual Neodi Saretta(PT) de Concórdia, lançou no dia 23 de agosto às 14 hs na Assembléia Legislativa de SC o FÓRUM PARLAMENTAR DE ESPORTE. Trata-se de um Fórum permanente que trabalha a temática : Democratização e inclusão social através do esporte em SC e vai estar presente em várias cidades do estado. O primeiro Fórum realizou-se em Concórdia com uma ampla participação e um debate instigante. O segundo aconteceu em 16 de setembro na cidade de Joaçaba, na câmara de vereadores e os resultados são muito positivos.
               Ao contrário dos Fóruns de esporte da FESPORTE que nunca deram em nada, o Fórum também unifica a bancada, da chamada esquerda catarinense, que deve verificar com carinho as políticas públicas adotadas pelo governo federal em Santa Catarina e que não são noticiadas pela FESPORTE. Deve alertar também o PC do B para suas políticas de inclusão esportiva através do programa Segundo Tempo e PELC, pois elas precisam ser revistas. Vão acabar por demonstrar que o Governo do estado precisa aprender muito com as políticas de inclusão social aplicadas pelo Instituto Gustavo Kuerten. As políticas do IGK envolvem muito mais recursos e dão resultados maiores que as do governo do estado.
              O FÓRUM PARLAMENTAR DO ESPORTE, criou uma ponte objetiva, prática, entre o legislativo catarinense e o esporte e lazer. Desse fórum nasceram em breve inúmeras leis que ajudaram a regulamentar o esporte de nossa terra. Se você procurar o legislativo do Rio Grande do Sul,  Paraná,Rio de Janeiro e São Paulo, perceberá que a legislação esportiva lá é bem extensa, ao contrário de Santa Catarina. Aqui, temos 20 páginas com leis acerca do esporte e lazer catarinense. Dessas, 19 são de declaração de utilidade pública a clubes e associações esportivas. Somente uma página trás algumas leis mais específicas. Estamos muito atrasados. Os dirigentes estaduais não dizem isso, mas essa é a mais pura verdade.
               Agora é esperar pelos próximos fóruns, participar com vontade e determinação e apostar nessa nova ideia. Talvez agora, as políticas públicas de esporte, deixem de ser o “primo pobre” da administração catarinense. 


ONDE ESTÁ O DINHEIRO DO FUNDESPORTE ?

             Um dos maiores problemas do esporte catarinense é a sua falta de transparência na aplicação dos recursos do FUNDESPORTE. O Fundo criado em 2005 iniciou suas ações de maneira tímida na movimentação financeira e foi crescendo de maneira rápida. Hoje, passados praticamente 6 anos, pouco se sabe sobre quem utilizou esses recursos, quais as empresas,  associações esportivas, clubes, federações atletas e demais entidades,sua utilidade social e seus resultados.
               O dirigente esportivo, atleta, professor de educação física ou mesmo o cidadão comum, encontram muitas barreiras para ter acesso a essas informações. O nível de desinformação é geral, gerando desconfianças e suspeitas em todo tecido esportivo. Aqui, o buraco é mais embaixo.
             No ano passado, estive em Brusque nos JASC e levei comigo a prestação de contas de 2005 a 2010. Dividido em três segmentos :1)Subvenções sociais, 2)Convênios e 3)Contratos SEITEC. Inúmeros dirigentes, atletas, presidentes de Fundações, CME e DMEs do estado, nos procuraram para saber das contas de suas entidades. O Espanto era geral !!! dirigentes indignados, afirmavam que haviam sido enganados em seus municípios. Um dirigente do Handebol do litoral, pediu-me as contas de sua entidade de 2007 nos contratos da SEITEC. Ao vê-los, espumava de raiva e indignação. Ao invés de comprovar que sua entidade havia recebido somente 50 mil reais, percebeu que foram 120 mil reais. Triste e muito brabo, afirmou que um de seus atletas, havia inclusive, vendido uma moto para poder disputar uma determinada competição nacional. E agora, somente agora, ele descobrira que fora enganado. Essa é apenas uma, das muitas histórias que poderíamos contar.
              Agora você que é dirigente, atleta, professor de educação física, não pode mais reclamar da falta de informação. Todas as contas de 2005 a 2010 estão a sua disposição. Isso deveria ser obrigação da FESPORTE e do Conselho Estadual de Esportes, que em nome do respeito aos recursos públicos, a democracia e a transparência no campo da políticas públicas, deveriam fazer parte dos sites dessas entidades. Por razões óbvias eles não colocam essas contas a sua disposição.
             Agora, você pode verificar como a sua entidade ou as entidades de sua cidade e região foram tratadas ao longo desses cinco anos. Poderá verificar também como algumas entidades que juram amor eterno ao esporte tem se beneficiado dos recursos públicos. O que eles dizem não se escreve. Existe nessas relações que estão a sua disposição, entidades muito suspeitas. São cerca de 30 entidades em que os beneficiados,possuem vínculos com políticos do governo do estado, gente com sobrenome tradicional, muito conhecido,dirigentes da FESPORTE e da educação física catarinense. As relações de poder são fortes e comprometedoras, deixaria qualquer um de cabelo em pé. Esse estudo demorou muito tempo e paciência e será publicado em livro até o final do ano.  

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Miséria do Esporte

Já está nas livrarias de todo o país – editado pela editora catarinense Insular  - um livro que promete mexer com a estrutura do esporte em Santa Catarina e no Brasil. É o trabalho “A Miséria do Esporte: reflexões sobre as políticas públicas em Santa Catarina”, de autoria do professor da UNOESC e mestre em Sociologia Política pela UFSC, Nilso Ouriques. No livro, Ouriques recupera, de maneira inédita, a história do esporte no estado, desde os tempos do chamado amadorismo até a profissionalização gradual que foi se gestando a partir das políticas públicas. O autor mostra, por exemplo, com absoluta claridade, como um dos maiores eventos do esporte amador de Santa Catarina, os JASC, está eivado do que ele chama de “profissionalismo marrom”. A politicagem, os desacertos, as arrumações e as equivocadas políticas públicas vão sendo desveladas, formando um quadro bastante sombrio do esporte em Santa Catarina. A obra, absolutamente eficaz no seu panorama totalizante, certamente pode servir para a reflexão do tema nos demais estados da federação, uma vez que as realidades são muito parecidas.

No texto que abre o livro, Nilso Ouriques mostra como o esporte em Santa Catarina passa de um amadorismo elitista para o chamado profissionalismo, e como depois esse profissionalismo vai se misturando ao esporte amador, a ponto de algumas prefeituras lançarem mão de atletas de fora dos municípios, com pagamento de altas quantias em dinheiro, para a disputa dos “amadores” Jogos Abertos, tornando a competição quase uma fraude. Expõe ainda, como, no transcurso da história, o esporte vai saindo da órbita do prazer e da saúde para outra, bem diferente, de competição, alto rendimento e derrocada física, elementos típicos do capitalismo.  Ainda no âmbito da história, Ouriques traça a caminhada do esporte no seu processo de institucionalização, quando o estado passa a lançar mão desta atividade para, inclusive, fazer uso político do setor, chegando a ser o que é hoje: espetáculo, evento, e nada mais.

A Miséria do Esporte revela também a trajetória da própria FIFA (Federação Internacional das Associações de Futebol), que,  antes de 1974, quando então assume João Havelange, não passava de uma pequena instituição européia, e que, com a proposta de estabelecer parceria com a grande empresa Adidas, começa um caminho sem volta de comercialização do esporte, hoje elevado a última potência. É uma espécie de nova ética comercial que transforma, no caso, o futebol, em uma mercadoria altamente rentável. Esta idéia de unir o capital com o esporte é a que leva o setor para o caminho dos grandes espetáculos, nos quais, praticamente o que menos importa,  é o esporte em si. O que está em jogo, realmente, são as múltiplas vendas que podem ser feitas desde esta fatia mercadológica. A FIFA e outras instituições esportivas, tal como o Comitê Olímpico, transformam-se assim em multinacionais do esporte, com todas as misérias que daí decorrem.

Essa nova ética comercial inaugurada pela FIFA vai criando seus tentáculos em todo o planeta, e Santa Catarina não fica de fora. Daí o grande mérito do trabalho de Nilso Ouriques, que faz parte da Rede Brasileira de Estudos Latino-Americanos (REBELA), coordenada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos, da UFSC. Ele consegue, nesta obra, traçar o caminho que o esporte local vai fazendo, desde as propostas amadoras até a sua transformação em mercadoria de alta renda, a ponto de as políticas públicas atuarem na construção de um calendário de eventos, capaz de se manter em atividade o ano inteiro, nos mais de 200 municípios, expondo os atletas a uma lógica de estresse e competição. A ação das Comissões Municipais de Esporte, dos Departamentos Municipais de Esporte e das Fundações Municipais de Esporte vão sendo desveladas e, ao final do livro,  o leitor consegue ter uma visão global de todo o processo, compreendendo quais são as forças que atuam no esporte catarinense e os problemas causados aos atletas e ao próprio conceito de esporte, na medida em que tudo é colocado sob a ótica do comércio, inclusive os seres humanos. “O esporte – diz Nilso – no meio municipal é autoritário, centralizado e profundamente viciado”.

O livro mostra ainda como, a partir da Nova República, os partidos de esquerda, juntamente com as universidades, começaram a trilhar um caminho crítico, de novas propostas. E, com a tomada de algumas prefeituras, nos anos 90, algumas políticas públicas começaram a ser implementadas levando em conta os desejos reais da população. Mas, a partir do ano 2000 essas idéias inovadoras e críticas começaram a vingar e, mesmo a esquerda, no poder, entrou na roda viva do esporte como evento, comércio, espetáculo e mercadoria. No caso de Santa Catarina, Nilso analisa a gestão de João Gizzoni, do PC do B, à frente da Federação Catarinense de Esportes. As idéias novas não vingaram porque o velho modo de conduzir o esporte não morreu. E, mesmo com a esquerda no comando, a grande política do esporte em Santa Catarina continuou sendo o calendário. Nilso desvela claramente que não há planos municipais de esporte e lazer e que tudo o que os municípios fazem é seguir o calendário da Fesporte. Ele observa ainda que, mesmo quando algum município trabalha pela viabilização do esporte comunitário, esta proposta acaba ficando perdida e desprotegida diante da forma hegemônica de conduzir o esporte no estado e na própria prefeitura. No geral, as atividades que envolvem comunidades são pontuais, rituais e não tem continuidade.

Há ainda toda uma análise da formação do profissional de Educação Física. Nilso mostra como os cursos, nas universidades, vão se adequando a esta lógica do esporte como evento, a tal ponto de preparar o aluno para serem gerentes, administradores esportivos, trabalhando sempre na lógica do marquetim e do comércio, transformando assim o esporte e o lazer num mero negócio. Sem mudar esta estrutura que vem desde a formação, o professor entende que é muito difícil o estado avançar para uma proposta em que o esporte possa ser vivido pelas gentes mesmas, nas suas comunidades, e como um espaço de lazer e brincadeira.

Agora, nestes dias em que o tema da Copa do Mundo de 2014 já começa a ser incensado na mídia como um grande momento para o país, a leitura do livro de Nilso Ouriques é uma boa dose de realidade. E, apesar de o professor joaçabense ainda depositar certa esperança no Partido dos Trabalhadores (uma vez que este é depositário de todo um debate que inovou a leitura do esporte nos anos 90), as declarações da presidenta Dilma Roussef (PT) no que diz respeito à Copa do Mundo e às Olimpíadas não parecem fugir da lógica de mercado a que estão submetidos estes megaeventos. Para se ter uma idéia, a Grécia, que ainda vive uma crise sem precedentes, teve a origem das suas dívidas impagáveis com os nove bilhões de euros que pegou emprestado para as Olimpíadas de 2004. Se o Brasil caminhar nessa onda, onde poderá parar?

As respostas para o esporte catarinense não aparecem como receita no livro de Nilso Ouriques. Mas, nos diversos artigos, alguns temas apontam caminhos. Uma guinada na formação, o comprometimento social dos profissionais da educação física, políticas públicas democratizadas, mudanças radicais na lógica do pensamento esportivo, a compreensão de que o esporte e o lazer são coisas que devem estar ligadas à saúde e a alegria de viver, o fim da politicagem no setor, enfim, novas liras para novas canções. Como bem se pode perceber na análise do professor, se as velhas práticas não forem extintas, o novo não pode surgir. O máximo que se pode chegar é a um remendo mal-arranjado, e isso, não é suficiente para mudar os conceitos e as práticas nessa área. Por enquanto, tudo é miséria!

Ouriques, Nilso. A Miséria do Esporte – reflexões sobre as políticas públicas em Santa Catarina. Florianópolis: Insular, 2010  
Tel/ Contato: 49- 3522 0141