sexta-feira, 18 de novembro de 2011

RAIMUNDO COLOMBO E PECOS VAIADOS. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Dia 10 de Novembro, abertura dos JASC em Criciúma 20 hs, estádio lotado. Estava tudo perfeito para a abertura do maior evento esportivo de Santa Catarina. No meio da festa e diante dos olhos da grande maioria dos municípios catarinenses algo inusitado estava por acontecer. A Fesporte fez tudo certinho. Eles são bons em aberturas e encerramento de jogos assim como na condução da parte técnica do evento. Para variar, trouxeram Gustavo Kuerten para ser homenageado, personalidades do governo do Estado e ele Raimundo Colombo.
                        Tudo transcorria muito bem até que Raimundo Colombo e Pecos foram falar. Chamados a se pronunciar foram VAIADOS. Não foi uma vaia qualquer... foi uma vaia forte e contínua que estragou a festa do governador  e do secretário de Cultura Esporte e Turismo.Um cheiro de coisa ruim pairava no ar. Estavam expostas as feridas. Rostos ficaram constrangidos, autoridades se entreolharam e uma enorme dúvida pairava no ar. Por que a Vaia para Raimundo Colombo em plena abertura dos JASC, logo em seu primeiro ano de governo? O que Raimundo fez de tão grave ?
                      A imprensa não tardou a explicar o inexplicável. Na grande mídia do esporte como é de costume calou, escondeu a vergonha. Comentaristas esportivos dos jornais e TVs... ninguém falou nada. Comentaristas políticos colocaram pequenos tópicos em suas colunas alertando para a existência da manifestação, para logo em seguida afirmar, que aquelas vaias eram para a FESPORTE, mais precisamente para Adalir Borsati Pecos, popular Pecos, o presidente da entidade.
                    Antes do evento as coisas já andavam ruins para o presidente. Comenta-se nos bastidores do esporte que Pecos vai cair até dezembro, devido aos atritos com o secretário de Cultura Esporte e Turismo. Pecos teria sofrido um grande esfregão da assessoria direta do secretário da pasta. Cabeças vão rolar. Se isso realmente acontecer como já é comentário corrente, cai o grande ícone da educação física conservadora de Santa Catarina. A pergunta é: Por que Pecos pode cair ?? A resposta está associada as contas do FUNDESPORTE ao longo dos anos. Pecos supostamente foi beneficiado com inúmeros recursos do fundo. Os recursos são legais, mas batem no campo da MORALIDADE. Legal mas imoral, tá entendendo ? Normalmente são recursos para a edificação de cursos e seminários no litoral, onde o beneficiado ganha favores do Estado e ainda por cima cobra os ingressos das pessoas, principalmente professores de educação física, para participar desses eventos.
                 Outro elemento forte, é a tentativa cada vez mais clara do secretario da pasta em beneficiar Florianópolis com recursos em um ano pré eleitoral, criando apoios importantes e fazendo caixa prá campanha. Vamos esperar, um mês passa rápido. A cobra vai fumar. 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CORRUPÇÃO LÁ OU AQUI E SEMPRE CORRUPÇÃO. É CRIME.

                                                        CAIU
             A imprensa sempre soube dos inúmeros casos de corrupção existentes no ministério dos esportes comandado pelo PC do B.A questão era saber quando derrubá-lo do cargo e quem sabe modificar o controle  do ministério. Assim, a mesma imprensa plantou o depoimento do sargento acerca da corrupção do ministro e dos recursos recebidos na garagem do ministério. A imprensa também sabe das inúmeras denúncias que envolvem o programa segundo tempo. Bolsistas recebem seus recursos atrasados, a merenda vem vencida, o material esportivo é de péssima qualidade, os núcleos não possuem número mino de alunos para funcionar, núcleos que se dizem ativos já foram desativados a tempos e assim vai.
          Em Santa Catarina, o programa é manipulado pelo Instituto Contato com sede em Florianópolis, possui hoje 125 núcleos em 71 municípios, recebeu esse ano mais de 6 milhões e quinhentos mil para administrar as suas atividades. SC também é alvo de denúncias. A corrupção campeia dentro do programa segundo tempo. A pergunta é: onde está a base do governo Dilma em SC, que não fiscaliza essas ações.Se não toda a base, ao menos os deputados estaduais e federais do PT deveriam fazer essa ação na sua região, evitando assim, que os desmandos aconteçam. A própria deputada estadual do PC do B Angela Albino deveria responder sobre isso.
            Enquanto isso O FUNDESPORTE também é fonte de denúncias a muitos e muitos anos. Inúmeros deputados de oposição a Luis Henrique da Silveira, passaram os últimos 8 anos denunciando as ações do famigerado Gilmar Knasel na secretaria de cultura esporte e lazer, a própria RBS, fora de seu estilo, denunciou casos de corrupção. Entidades fantasmas, favorecimento pessoais a parentes e amigos de deputados, ações indevidas, não realização de atividades e eventos devidamente pagos etc etc...Não seria a hora exata de dizer um basta a corrupção no esporte ?Corrupção em Brasília ou em Florianópolis no esporte é sempre corrupção. Então Raimundo... AUDITORIA JÁ NO FUNDESPORTE.Não vai sobrar pedra sobre pedra.
           Mas eu descobri algo fantástico em relação a corrupção. A MORAL É GEOGRÁFICA.  Quando  corrupção  é lá longe, lá em Brasília..todo mundo aponta o dedo e manda colocar o cara na fogueira. Quando ela é aqui em Florianópois, Blumenau, B. Camboriú, Itajaí ou no meu quintal... quando o corrupto é meu vizinho, os dedos se abaixam junto com a cabeça e dizem, é melhor a gente não se meter... afinal de contas é nosso amigo.E assim segue a humanidade, assim segue o esporte catarinense.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O QUE VOCÊ DEVE OBSERVAR NAS CONTAS DO FUNDESPORTE ?

         Quando você abrir o link das contas do FUNDESPORTE, uma quantidade enorme de informações econômicas estará chegando aos seus olhos. A princípio isso gera muita confusão. São muitas informações e ao mesmo tempo, nós nunca tivemos acesso a esse tipo de leitura. Isso causa um certo estranhamento. Fique calmo!! Essa mesma sensação de despreparo diante desse material é natural. Esse mesmo sentimento de incapacidade de fazer uma leitura mais aproximada da realidade é o primeiro pensamento que nos vem a cabeça. Desvendar o que está escondido nesses números e colunas exige uma certa técnica. Assim vou sugerir alguns encaminhamentos.
1º) Os recursos no seu Município. Observe quem recebeu recursos em seu município e verifique através de sua memória se esses eventos e projetos esportivos foram realmente realizados. Depois verifique os valores, para ver se eles fecham com a quantidade de valores expressas na época em que foram realizados.  Na grande maioria dos casos eles não fecham.
2º)O dinheiro ficou no litoral.Depois verifique através de uma simples olhada na parte esquerda da relação, os municípios que foram beneficiados com os recursos. Aí você vai ter um primeiro choque de duas proporções. A) Cerca de dez (10) municípios de Santa Catarina receberam 80% dos recursos; b) Essas cidades estão todas no litoral; c) Sendo assim, o Interior foi “esquecido” de maneira deliberada.
3º)Não existe planejamento estratégico.O mercado dirige o carro do esporte e a distribuição dos recursos através dos eventos.Ou seja, Não existe um planejamento do Estado acerca do desenvolvimento esportivo. O mercado cria os eventos, manda os projetos para os amigos e esses são liberados de acordo com critérios exclusivamente políticos.
4º)O esporte de rendimento é tudo. Você irá verificar através da leitura simples dos eventos realizados que o esporte de rendimento está endeusado, enquanto que o esporte comunitário e educacional foram abandonados. Ou seja, A constituição de Santa Catarina foi rasgada, todos na educação física sabem disso. O que fazem o nossos deputados ? Não deveriam zelar pela integridade e cumprimento da lei maior ?
5º)Municípios do interior abandonados.Os municípios estão de pires na mão e abandonados. A infraestrutura esportiva de Santa Catarina do interior está sucateada.
6º)Federações ricas e pobres. A diferença entre os ricos e os pobres. Existem dez federações ricas e as demais estão passando fome. Por coincidência estão todas no litoral, próximas a mídia, a Fesporte e seus dirigentes.
7º)O assalto ao Estado. Os promotores de eventos estão escondidos na lista. Cerca de trinta entidades dessas listas,foram mapeadas através de um demorado estudo. De posse do CNPJ, descobrimos os sócios dessas empresas e cruzamos informações com os dirigentes estaduais da FESPORTE, Conselho estadual de esporte, Deputados estaduais e mesmo federais, além de grandes personalidades da vida pública catarinense... é estarrecedor. Essa lista será pública em livro a ser lançado. Muitos desses casos já foram denunciados por alguns deputados de oposição a Luiz Henrique da Silveira, mas não foram levados a sério. Outros são uma completa novidade, esses são os piores. Os valores são altíssimos. Na grande maioria dos casos não são da área esportiva, são paraquedistas e homens de negócios.
8º) As chaves do cofre e o poder. O FUNDESPORTE e a FESPORTE, não possuem um critério técnico para distribuição dos recursos. O Conselho estadual de Desporto e seus dirigentes sabem disso e calaram a vida toda. Os interesses empresariais penetraram no coração do Estado e realizaram um ASSALTO AO ESTADO.
9º) Denúncias não faltam. A imprensa dificulta ao máximo o acesso a essas informações. O ministério público estadual precisa agir.
10º)É legal, Mas é moral? Algumas entidades de administração esportiva utilizam-se de recursos vultuosos do Estado para a realização de cursos, seminários, congressos esportivos e de lazer e cobram da grande base esportiva catarinense(clubes, federações, associações e professores de educação física) valores altíssimos para participação nos mesmos. Um caso típico dessa prática são os rodeios em Santa Catarina.
11º)A transparência é zero. O esporte catarinense, está a mais de vinte anos atrás da saúde e da educação nas políticas públicas, em aspectos ligados a democratização e ao controle púbico sob os recursos. No esporte, não chegamos ainda a fase da cidadania, estamos na barbárie.
12º) Os recursos são poucos e insuficientes. Ao mesmo tempo a população catarinense e o grande tecido esportivo do estado, desconhece o percentual anual gasto com o esporte e lazer, sendo assim, não possui nenhuma bandeira de luta. Os dirigentes esportivos estaduais, os mesmo há mais de trinta anos, não possuem qualquer peso político junto ao governo para levantar essas bandeiras.     
              Agora que você já teve uma rápida panorama do caso FUNDESPORTE, faça um favor a Santa Catarina, a democracia, a cidadania no esporte e ao controle rígido do dinheiro público no esporte. Divulgue esse material aos professores de educação física de sua região, amigos de clubes, federações, imprensa local e demais  interessados. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

EXISTE UMA BOA NOVIDADE NO ESPORTE CATARINENSE

          Numa iniciativa inédita na história do esporte de Santa Catarina, o Deputado Estadual Neodi Saretta(PT) de Concórdia, lançou no dia 23 de agosto às 14 hs na Assembléia Legislativa de SC o FÓRUM PARLAMENTAR DE ESPORTE. Trata-se de um Fórum permanente que trabalha a temática : Democratização e inclusão social através do esporte em SC e vai estar presente em várias cidades do estado. O primeiro Fórum realizou-se em Concórdia com uma ampla participação e um debate instigante. O segundo aconteceu em 16 de setembro na cidade de Joaçaba, na câmara de vereadores e os resultados são muito positivos.
               Ao contrário dos Fóruns de esporte da FESPORTE que nunca deram em nada, o Fórum também unifica a bancada, da chamada esquerda catarinense, que deve verificar com carinho as políticas públicas adotadas pelo governo federal em Santa Catarina e que não são noticiadas pela FESPORTE. Deve alertar também o PC do B para suas políticas de inclusão esportiva através do programa Segundo Tempo e PELC, pois elas precisam ser revistas. Vão acabar por demonstrar que o Governo do estado precisa aprender muito com as políticas de inclusão social aplicadas pelo Instituto Gustavo Kuerten. As políticas do IGK envolvem muito mais recursos e dão resultados maiores que as do governo do estado.
              O FÓRUM PARLAMENTAR DO ESPORTE, criou uma ponte objetiva, prática, entre o legislativo catarinense e o esporte e lazer. Desse fórum nasceram em breve inúmeras leis que ajudaram a regulamentar o esporte de nossa terra. Se você procurar o legislativo do Rio Grande do Sul,  Paraná,Rio de Janeiro e São Paulo, perceberá que a legislação esportiva lá é bem extensa, ao contrário de Santa Catarina. Aqui, temos 20 páginas com leis acerca do esporte e lazer catarinense. Dessas, 19 são de declaração de utilidade pública a clubes e associações esportivas. Somente uma página trás algumas leis mais específicas. Estamos muito atrasados. Os dirigentes estaduais não dizem isso, mas essa é a mais pura verdade.
               Agora é esperar pelos próximos fóruns, participar com vontade e determinação e apostar nessa nova ideia. Talvez agora, as políticas públicas de esporte, deixem de ser o “primo pobre” da administração catarinense. 


ONDE ESTÁ O DINHEIRO DO FUNDESPORTE ?

             Um dos maiores problemas do esporte catarinense é a sua falta de transparência na aplicação dos recursos do FUNDESPORTE. O Fundo criado em 2005 iniciou suas ações de maneira tímida na movimentação financeira e foi crescendo de maneira rápida. Hoje, passados praticamente 6 anos, pouco se sabe sobre quem utilizou esses recursos, quais as empresas,  associações esportivas, clubes, federações atletas e demais entidades,sua utilidade social e seus resultados.
               O dirigente esportivo, atleta, professor de educação física ou mesmo o cidadão comum, encontram muitas barreiras para ter acesso a essas informações. O nível de desinformação é geral, gerando desconfianças e suspeitas em todo tecido esportivo. Aqui, o buraco é mais embaixo.
             No ano passado, estive em Brusque nos JASC e levei comigo a prestação de contas de 2005 a 2010. Dividido em três segmentos :1)Subvenções sociais, 2)Convênios e 3)Contratos SEITEC. Inúmeros dirigentes, atletas, presidentes de Fundações, CME e DMEs do estado, nos procuraram para saber das contas de suas entidades. O Espanto era geral !!! dirigentes indignados, afirmavam que haviam sido enganados em seus municípios. Um dirigente do Handebol do litoral, pediu-me as contas de sua entidade de 2007 nos contratos da SEITEC. Ao vê-los, espumava de raiva e indignação. Ao invés de comprovar que sua entidade havia recebido somente 50 mil reais, percebeu que foram 120 mil reais. Triste e muito brabo, afirmou que um de seus atletas, havia inclusive, vendido uma moto para poder disputar uma determinada competição nacional. E agora, somente agora, ele descobrira que fora enganado. Essa é apenas uma, das muitas histórias que poderíamos contar.
              Agora você que é dirigente, atleta, professor de educação física, não pode mais reclamar da falta de informação. Todas as contas de 2005 a 2010 estão a sua disposição. Isso deveria ser obrigação da FESPORTE e do Conselho Estadual de Esportes, que em nome do respeito aos recursos públicos, a democracia e a transparência no campo da políticas públicas, deveriam fazer parte dos sites dessas entidades. Por razões óbvias eles não colocam essas contas a sua disposição.
             Agora, você pode verificar como a sua entidade ou as entidades de sua cidade e região foram tratadas ao longo desses cinco anos. Poderá verificar também como algumas entidades que juram amor eterno ao esporte tem se beneficiado dos recursos públicos. O que eles dizem não se escreve. Existe nessas relações que estão a sua disposição, entidades muito suspeitas. São cerca de 30 entidades em que os beneficiados,possuem vínculos com políticos do governo do estado, gente com sobrenome tradicional, muito conhecido,dirigentes da FESPORTE e da educação física catarinense. As relações de poder são fortes e comprometedoras, deixaria qualquer um de cabelo em pé. Esse estudo demorou muito tempo e paciência e será publicado em livro até o final do ano.  

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Miséria do Esporte

Já está nas livrarias de todo o país – editado pela editora catarinense Insular  - um livro que promete mexer com a estrutura do esporte em Santa Catarina e no Brasil. É o trabalho “A Miséria do Esporte: reflexões sobre as políticas públicas em Santa Catarina”, de autoria do professor da UNOESC e mestre em Sociologia Política pela UFSC, Nilso Ouriques. No livro, Ouriques recupera, de maneira inédita, a história do esporte no estado, desde os tempos do chamado amadorismo até a profissionalização gradual que foi se gestando a partir das políticas públicas. O autor mostra, por exemplo, com absoluta claridade, como um dos maiores eventos do esporte amador de Santa Catarina, os JASC, está eivado do que ele chama de “profissionalismo marrom”. A politicagem, os desacertos, as arrumações e as equivocadas políticas públicas vão sendo desveladas, formando um quadro bastante sombrio do esporte em Santa Catarina. A obra, absolutamente eficaz no seu panorama totalizante, certamente pode servir para a reflexão do tema nos demais estados da federação, uma vez que as realidades são muito parecidas.

No texto que abre o livro, Nilso Ouriques mostra como o esporte em Santa Catarina passa de um amadorismo elitista para o chamado profissionalismo, e como depois esse profissionalismo vai se misturando ao esporte amador, a ponto de algumas prefeituras lançarem mão de atletas de fora dos municípios, com pagamento de altas quantias em dinheiro, para a disputa dos “amadores” Jogos Abertos, tornando a competição quase uma fraude. Expõe ainda, como, no transcurso da história, o esporte vai saindo da órbita do prazer e da saúde para outra, bem diferente, de competição, alto rendimento e derrocada física, elementos típicos do capitalismo.  Ainda no âmbito da história, Ouriques traça a caminhada do esporte no seu processo de institucionalização, quando o estado passa a lançar mão desta atividade para, inclusive, fazer uso político do setor, chegando a ser o que é hoje: espetáculo, evento, e nada mais.

A Miséria do Esporte revela também a trajetória da própria FIFA (Federação Internacional das Associações de Futebol), que,  antes de 1974, quando então assume João Havelange, não passava de uma pequena instituição européia, e que, com a proposta de estabelecer parceria com a grande empresa Adidas, começa um caminho sem volta de comercialização do esporte, hoje elevado a última potência. É uma espécie de nova ética comercial que transforma, no caso, o futebol, em uma mercadoria altamente rentável. Esta idéia de unir o capital com o esporte é a que leva o setor para o caminho dos grandes espetáculos, nos quais, praticamente o que menos importa,  é o esporte em si. O que está em jogo, realmente, são as múltiplas vendas que podem ser feitas desde esta fatia mercadológica. A FIFA e outras instituições esportivas, tal como o Comitê Olímpico, transformam-se assim em multinacionais do esporte, com todas as misérias que daí decorrem.

Essa nova ética comercial inaugurada pela FIFA vai criando seus tentáculos em todo o planeta, e Santa Catarina não fica de fora. Daí o grande mérito do trabalho de Nilso Ouriques, que faz parte da Rede Brasileira de Estudos Latino-Americanos (REBELA), coordenada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos, da UFSC. Ele consegue, nesta obra, traçar o caminho que o esporte local vai fazendo, desde as propostas amadoras até a sua transformação em mercadoria de alta renda, a ponto de as políticas públicas atuarem na construção de um calendário de eventos, capaz de se manter em atividade o ano inteiro, nos mais de 200 municípios, expondo os atletas a uma lógica de estresse e competição. A ação das Comissões Municipais de Esporte, dos Departamentos Municipais de Esporte e das Fundações Municipais de Esporte vão sendo desveladas e, ao final do livro,  o leitor consegue ter uma visão global de todo o processo, compreendendo quais são as forças que atuam no esporte catarinense e os problemas causados aos atletas e ao próprio conceito de esporte, na medida em que tudo é colocado sob a ótica do comércio, inclusive os seres humanos. “O esporte – diz Nilso – no meio municipal é autoritário, centralizado e profundamente viciado”.

O livro mostra ainda como, a partir da Nova República, os partidos de esquerda, juntamente com as universidades, começaram a trilhar um caminho crítico, de novas propostas. E, com a tomada de algumas prefeituras, nos anos 90, algumas políticas públicas começaram a ser implementadas levando em conta os desejos reais da população. Mas, a partir do ano 2000 essas idéias inovadoras e críticas começaram a vingar e, mesmo a esquerda, no poder, entrou na roda viva do esporte como evento, comércio, espetáculo e mercadoria. No caso de Santa Catarina, Nilso analisa a gestão de João Gizzoni, do PC do B, à frente da Federação Catarinense de Esportes. As idéias novas não vingaram porque o velho modo de conduzir o esporte não morreu. E, mesmo com a esquerda no comando, a grande política do esporte em Santa Catarina continuou sendo o calendário. Nilso desvela claramente que não há planos municipais de esporte e lazer e que tudo o que os municípios fazem é seguir o calendário da Fesporte. Ele observa ainda que, mesmo quando algum município trabalha pela viabilização do esporte comunitário, esta proposta acaba ficando perdida e desprotegida diante da forma hegemônica de conduzir o esporte no estado e na própria prefeitura. No geral, as atividades que envolvem comunidades são pontuais, rituais e não tem continuidade.

Há ainda toda uma análise da formação do profissional de Educação Física. Nilso mostra como os cursos, nas universidades, vão se adequando a esta lógica do esporte como evento, a tal ponto de preparar o aluno para serem gerentes, administradores esportivos, trabalhando sempre na lógica do marquetim e do comércio, transformando assim o esporte e o lazer num mero negócio. Sem mudar esta estrutura que vem desde a formação, o professor entende que é muito difícil o estado avançar para uma proposta em que o esporte possa ser vivido pelas gentes mesmas, nas suas comunidades, e como um espaço de lazer e brincadeira.

Agora, nestes dias em que o tema da Copa do Mundo de 2014 já começa a ser incensado na mídia como um grande momento para o país, a leitura do livro de Nilso Ouriques é uma boa dose de realidade. E, apesar de o professor joaçabense ainda depositar certa esperança no Partido dos Trabalhadores (uma vez que este é depositário de todo um debate que inovou a leitura do esporte nos anos 90), as declarações da presidenta Dilma Roussef (PT) no que diz respeito à Copa do Mundo e às Olimpíadas não parecem fugir da lógica de mercado a que estão submetidos estes megaeventos. Para se ter uma idéia, a Grécia, que ainda vive uma crise sem precedentes, teve a origem das suas dívidas impagáveis com os nove bilhões de euros que pegou emprestado para as Olimpíadas de 2004. Se o Brasil caminhar nessa onda, onde poderá parar?

As respostas para o esporte catarinense não aparecem como receita no livro de Nilso Ouriques. Mas, nos diversos artigos, alguns temas apontam caminhos. Uma guinada na formação, o comprometimento social dos profissionais da educação física, políticas públicas democratizadas, mudanças radicais na lógica do pensamento esportivo, a compreensão de que o esporte e o lazer são coisas que devem estar ligadas à saúde e a alegria de viver, o fim da politicagem no setor, enfim, novas liras para novas canções. Como bem se pode perceber na análise do professor, se as velhas práticas não forem extintas, o novo não pode surgir. O máximo que se pode chegar é a um remendo mal-arranjado, e isso, não é suficiente para mudar os conceitos e as práticas nessa área. Por enquanto, tudo é miséria!

Ouriques, Nilso. A Miséria do Esporte – reflexões sobre as políticas públicas em Santa Catarina. Florianópolis: Insular, 2010  
Tel/ Contato: 49- 3522 0141